O poderoso movimento do judaísmo da Europa Oriental, que se iniciou no século XVIII e se tornou conhecido pelo nome de hassidismo, encontrou sedimentação numa torrente quase inabordável de narrativas lendárias. Esta tradição depositada, em parte oral e em parte escrituralmente, permaneceu por muito tempo como uma massa desestruturada, quase informe, por assim dizer, sem pretensão a qualquer validade literária. Coube a Martin Buber o mérito de haver coligido não só as histórias hassídicas, mas de tê-las enformado em termos de linguagem poética e iluminado do ponto de vista filosófico. Com isso, o que se achava oculto nas vielas obscuras dos guetos ou em alfarrábios relegados à poeira do esquecimento se nos apresenta em radiosa profusão de um mundo de sabedoria de vida e de religiosidade existencial, cuja força e originalidade impressionam mais do que nunca o leitor de hoje.